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  • Writer's pictureCooperação e Proje. de Insp. Alternativa

Um pouco da metodologia da CAPINA


A Metodologia proposta nos trabalhos que envolvem a Capina, passa pela ampliação da intervenção dos participantes e pela criação de um campo de experimentação

As atividades têm uma programação prevista, mas a dinâmica do funcionamento se apóia no desempenho de diferentes equipes de gestão.

Todo o coletivo, incluindo a equipe da Capina, se responsabiliza através dessas equipes pelo andamento dos trabalhos.

Pensar e agir sobre a organização das condições de trabalho, num primeiro momento, pode parecer da ordem do tarefismo: decidir e dar encaminhamentos às questões mais imediatas que emergem do cotidiano.

O importante é justamente o cotidiano, porque é nele que as coisas acontecem e que os processos tomam concretude. Cotidiano, de um modo geral, lembra rotina, repetição do previsto. Essa imagem nos remete à necessidade da criação de um controle para a manutenção dos ritmos, dos gestos, dos lugares, evitando riscos e conflitos que possam ameaçar a produtividade. É o exercício da gestão partilhada, usada como dispositivo, que abre, ao mesmo tempo, um espaço para o controle do processo formativo e para a aprendizagem sobre as questões do poder postas naquele coletivo. E, o mais importante, a experiência traz à tona a indissociabilidade entre gestão e conteúdo, teoria e prática, saber e poder, viabilidade econômica e gestão democrática.

As contas a partir das práticas

A elaboração de um Estudo de Viabilidade Econômica (EVE) implica – é óbvio - no cálculo dos custos da atividade a ser estudada. O cálculo destes custos, por sua vez, depende, da correta e detalhada observação das diversas tarefas que compõem a atividade. É dessa observação, de que todos participam e discutem, tanto os produtores como o assessor, que se vão tirar os números necessários para as contas. Mais do que contas complicadas, o que se precisa conhecer, com profundidade, são essas atividades que compõem o dia a dia do processo produtivo.

O destaque aqui é o aprendizado de trabalhar a partir da prática: mesmo que não explicitem, os grupos de produção fazem contas e usam seus próprios números. O desafio é conseguir que todos identifiquem e entendam esses números para usá-los de forma adequada. O outro desafio é aprofundar o conhecimento da atividade, indispensável para o fortalecimento da sustentabilidade dos empreendimentos dos setores populares.

Pressupostos

O uso da lógica dos racionalismos perpassa a formação das gerações mais recentes e, por isso mesmo, é difícil perceber de imediato o quanto ela permanece presente nas propostas de trabalho que se pretendem inscritas na perspectiva de uma mudança de paradigma.

O paradigma hegemônico parte de leis da natureza e da necessidade de métodos. Assim os modelos são para ser seguidos. A racionalidade, a objetividade e neutralidade induzem ao reconhecimento do que já está dado.

Assim o processo é o estabelecido pela física clássica onde o mundo e os corpos compunham uma espécie de relógio – regularidade e estabilidade - onde ordem é igual a equilíbrio. Tempo é o cronológico, medido, - passado - presente – futuro

A lógica mecanicista ,que rege a concepção de gestão denominada administrativa- empresarial - investe na instauração de um pensamento único, na homogeneização ou estandardização dos processos de trabalho e de conhecimento, e se vale de formas sempre renovadas de vigilância e de fiscalização; de instrumentos de avaliação e de controle sobre os riscos.

E tanto nas formas tradicionais de trabalho quanto nas experiências que tencionam a autogestão, o que é (pre)escrito não dá conta da realidade do trabalho, ele pode ser um norte, uma referência a ser considerada. Há, na perspectiva administrativa- gerencial, uma dissociação entre atividade e gestão da atividade. Para explorar esse campo de experimentação, no sentido da desconstrução de seus mandamentos, é preciso trabalhar com o dinamismo da co-existência de diferentes modos de gestão nos grupos

Agrega-se àquilo que está instituído, ao que deve ser feito, uma outra dimensão da experiência que se refere ao que cada trabalhador mobiliza de si e dos outros para dar conta da vida do trabalho. Cada um traz consigo um modo de gestão, uma maneira de fazer.

O que está incorporado à proposta de formação da Capina, indica uma tendência: a de acolher processos de autonomia que são ativados permanentemente. Esses graus de autonomia não pressupõem um estado de libertação, mas a ampliação dos espaços de liberdade frente aos constrangimentos, coerções e limitações impostos pelo sistema.

Assim, o que se admite é que podem ser criados dispositivos que favoreçam processos de autogestão, mas a autogestão entendida como tomada de poder não é passível de ser ensinada ou transmitida, ao contrário do que se impõem na gestão administrativa-empresarial. Ela é eminentemente uma atitude de recusa e de insurgência em relação aos processos de reprodução do que está dado e se inscreve no sentido da reinvenção das condições de convivência e existência.

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